E diante de tantas lágrimas, perdas e luto é que compreendemos a importância entre nós de desenvolvermos uma cultura de afetividade, respeito as construções, a trajetória de lutas e todos os nossos acúmulos durante a vida de militante antirracista.

Nossas histórias são atravessadas por muitos problemas, desafios e questões idênticas. Somos homens e mulheres pretas em um país que mesmo tendo sido construído sobre o sangue de nossos ancestrais ainda não nos reconhece como legatários de parte de suas riquezas de poder.

Em nossas instituições muitas vezes o jogo político que aprendemos a jogar não possui a nossa forma de construir e manter nossas comunidades, mas reproduz velhas fórmulas de sobrevivência para o mundo dos brancos.

Uma de nossas fundadoras partiu ontem para o Orun. São poucos os registros, dela. Mesmo tendo sido nossa “primeira dama”, ela sempre fez questão não aceitar essa denominação, segundo nos contaram alguns de seus amigos dos tempos de concepção do IPCN, antes mesmo da fundação e compra de nossa sede: “Primeira Dama, não. Sou Marcia Maria!!!”

Neste sábado de sol de verão, quando o Rio de Janeiro ainda chora e lamenta e perda de uma das nossas mais importantes vozes do mundo, Marcia teve seu cortejo no Cemitério São Francisco Xavier-Caju, deixou filhos e familiares zelosos e uma multidão de amigos sinceros.

O Instituto de Pesquisa das Culturas Negras lamenta a passagem de sua fundadora e se solidariza com a dor de amigos e familiares..

Lembramos que MARCIA MARIA DE SANTANA RODRIGUES foi comerciante, servidora pública, militante feminista aguerrida e ex esposa de Benedito Sérgio, nosso grandioso primeiro presidente e nosso antecessor na gestão, com quem também queremos nos solidarizar.

Que as ancestrais recebam no Orun nossa nova ancestral, que de lá fortalecerá ainda mais os pilares de união, potência e fecundidade do Centro Irradiador de Luta Antirracista que somos.

Asé!