No último domingo (29), durante a exibição da edição semanal do Fantástico, na TV Globo, o nosso atual Conselheiro Diretor de Comunicação do IPCN, Marcelo Dias, falou sobre o massacre ocorrido na Vila Cruzeiro. Em referência à operação policial que deixou ao menos 25 mortos na zona norte carioca. A ação que se tornou a segunda mais letal da história recente da região metropolitana do Rio, segundo o último estudo do GENI-UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense). A pesquisa reuniu informações sobre as ações policiais realizadas desde 1989. Segundo os últimos registros, a operação só perdeu para o massacre do Jacarezinho, no ano de 2021, com um saldo brutal de 28 mortos.
Marcelo Dias dedica sua trajetória política à Luta contra o Genocídio Negro, desde o Movimento de Favelas. É advogado, membro da Frente de Juristas Negras e Negros/ FJUNN e foi Deputado Estadual pelo PT de 1991 à 1999. Em seu currículo acumula experiências como ex-presidente das Comissões de Igualdade Racial e da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra da OABRJ, como ex-membro da Coordenação Nacional do MNU/Movimento Negro Unificado.
Marcelo é da Vila Cruzeiro, nascido e criado na comunidade. Durante a entrevista, o diretor criticou a forma de atuação das autoridades no local. Dias destacou que o projeto de *Pacificação*, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), fracassou:
“Eles prometeram um banho de cidadania dentro dessas comunidades. Isso nunca acontece. Só chegaram as forças de segurança. Um ano e meio, dois anos e meio depois, a gente já percebia a degeneração do projeto. Houve um período em que a ocupação conseguiu estabilizar o lugar, mas aí também não teve continuidade. As operações policiais são por vezes necessárias, dado o contexto do Rio de Janeiro, mas elas não podem de maneira nenhuma ser a única forma de ação das forças policiais nesses lugares. A gente não vê melhoria nenhuma. Cadê as creches, as piscinas? Cadê o esporte? O lazer dentro dessas comunidades? Não tem uma ação das Forças de Segurança nessas comunidades que não deixe um corpo inocente caído no chão”, conclui nosso diretor.
“Eles prometeram um banho de cidadania dentro dessas comunidades. Isso nunca acontece. Só chegaram as forças de segurança. Um ano e meio, dois anos e meio depois, a gente já percebia a degeneração do projeto das UPPs. Houve um período em que a ocupação conseguiu estabilizar o lugar, mas aí também não teve continuidade”, lamenta Marcelo.
Para o diretor, “as operações policiais são por vezes necessárias, dado o contexto do Rio de Janeiro, mas elas não podem, de maneira nenhuma, ser a única forma de ação das forças de segurança e presença do Estado nesses territórios”.
“A gente não vê melhoria nenhuma. Cadê as creches, as piscinas? Cadê o esporte? O lazer dentro dessas comunidades? Os cursos profissionalizantes, postos de saúde, escolas do ensino médio. Não tem uma ação das Forças de Segurança nessas comunidades que não deixe um corpo inocente caído no chão”, conclui Dias em seu depoimento ao Fantástico.
Assista a reportagem na íntegra:
https://globoplay.globo.com/v/10619789/
ASCOM DO IPCN
Fabio Nascimento.
Vó Maria de Souza
Esta é a poesia de Maria
Da Maria feita de Maria.
Daquela Maria que se fez poesia.
Da Maria que se fez fortaleza
Da Maria que pariu a pureza
Da Maria que não se sabe a idade
Típica Maria que amamentou santidade.
Maria que não é Maria vai com as outras
Mas das outras que foram com Maria.
Maria que lavou roupas
Das diversas roupas que não tinha.
Maria que não teve festas
Que não teve descanso
As vezes nem feijão
Eita Maria resistência
E de grande sabença
Maria, a senhora sou eu.
Que me tornei o engano de sua morte.
Das comidas que você cozeu
E o sabor de sua sorte.
Ai que saudade Maria.
Do seu colo macio
Da vó carinhosa
Maria que fez Maria
Mulher de voz suave e firme
E abraço forte.
A doceira Maria
Do coco ralado
Do pé de moleque
Que saudade Maria.
Saudade do arroz com feijão
Da linguiça frita com couve.
Do ovo de gema mole
Aí que saudade Maria.
Saudade de lavar seu banheiro
E disputar com os primos
O carinho infinito.
Saudade de limpar o pente quente
Da chapinha limpinha
E marcel brilhante.
Saudade do cheiro de henê.
Das negras falantes do seu modesto salão.
Saudade da raiva que eu tinha quando alguém não pagava o sagrado quinhão.
Maria que não conheceu meu filho
Que não sabe que ainda sou triste
Maria, a senhora não se foi
E nunca irá
O meu sangue da herança Maria
É sangue do chão
É sangue preto
De carreiro de boi.
Maria, me proteja daí
Daqui eu faço minha parte
Maria da herança eterna
Que daqui eu transformo em arte.
Jefferson Dantas