O mundo sem surpresa, mas com indignação secular, assiste a mais um episódio de palavras que ferem mais do que qualquer arma branca ou de fogo, que fere a alma deixando as profundas e eternas cicatrizes.
Não podemos deixar passar nenhum episódio de racismo, que após 300 anos de sua macabra e perversa invenção, infelizmente, continua vivo, pronto para desunir, machucar e marcar pessoas.
Como palavras e atos racistas não passarão, há um ano Lewis Hamilton foi achacado por Nelson Piquet, mas somente foi noticiado no Brasil e no mundo nessa semana mais uma agressão verbal racista do ex-piloto brasileiro Piquet dirigida a Hamilton, fato que fomentou inúmeras críticas ao usar um termo racista para se referir ao heptacampeão de Fórmula 1 Lewis Hamilton:“Não. O neguinho meteu o carro e ele deixou”.
O britânico, além de sua equipe e outros representantes da categoria, se pronunciaram sobre o caso. São recorrentes as provocações da família Piquet em relação a Hamilton.
Respondendo o seguinte a Piquet:
It’s more than language. These archaic mindsets need to change and have no place in our sport. I’ve been surrounded by these attitudes and targeted my whole life. There has been plenty of time to learn. Time has come for action.(Hamilton, piloto de corridas)
É mais do que linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar em nosso esporte. Estive cercado por essas atitudes e alvejado toda a minha vida. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação.(tradução da fala de Hamilton)
Nesse fim de semana, 26/06, a vítima, direta, da vez foi o meio campo Harrinson Mancilla, 30 anos, colombiano, insultado no estádio por sua cor e nacionalidade.
Normalmente as vítimas diretas não sofrem sozinhas. As vítimas indiretas são todas aquelas que compõem a sociedade de negros, é a população de todas as classes sociais de pele preta. Portanto a dor não é solo, a dor é coletiva.
Harrinson chegou as lágrimas e toda a sociedade negra chorou junto com ele. A dor perpassa o indivíduo e fere o coletivo em igual proporção.
Foi no futebol argentino, quando o Platense recebeu o Sarmiento no estádio Ciudad de Vicente López, de empate por 0 a 0, torcedores da equipe mandante fizeram vários insultos contra a cor e a nacionalidade do meia colombiano Harrinson, do time visitante.
“Mancilla, não suportou permanecer os minutos finais em campo e foi substituído aos 48 da segunda etapa, aos prantos.”
Mas qual o motivo do choro? Motivo é que a ofensa fere como faca. As lágrimas vêm como um pedido de basta! É traduzido como uma postura de convencumento quanto a ser um ser uumano e não um alienígena.
E preciso estudo acadêmico para virar essa mesa.
O racismo nasceu em uma academia e o antídoto está na academia, na ciência social.
Um filósofo do século XVII, Immanuel Kant, e sua equipe criou esse vírus maldito. Que surja um filósofo do século XXI e sua equipe, para fornecer argumentos que extinga definitivamente esse maldito e destruidor vírus cognominado racismo.
Por Fátima Moura
Advogada, Jornalista, associada do IPCN
Fonte: O GLOBO