O trabalho formal, suas características e estratégias de precarização, chamadas de flexibilização das relações, tornam trabalhadores e trabalhadoras, no mundo inteiro, mais vulneráveis. E nós somos aqueles que mais somos aviltados por essas mudanças.

A lei da oferta e da procura, aquela criada por Adam Smith, para justificar como são regulados os mercados liberais, faz até hoje a lógica do capitalismo. É o que muitos dos responsáveis pela atual política econômica brasileira desejam que pensemos sobre o desemprego e os impactos da flexibilização da legislação trabalhista.

Como o salve-se quem puder da pregação dos ‘influencers’ e seus videos sobre você ser o único responsável pelo que está passando; lives de auto ajuda e DIY (do it yoursef – faça você mesmo) está levando milhões de pessoas ao fosso da frustração, ansiedades e problemas de saúde física e mental.

Não podemos desprezar que este mês se inicia em muitos países do mundo as comemorações das conquistas de trabalhadoras e trabalhadores no mundo inteiro. 

É o Dia do Trabalho!

Mas, o que vemos no Brasil é a força do mercado ditando a regra: mais tecnologia e menos postos de trabalho;  mão de obra desvalorizada, descartada, desprezada. A industrialização que foi servida como remédio para os males sociais precisa ser mais ágil, menos onerosa e suprir o mercado com o menor custo possível. E para isto as tecnologias apresentam máquinas e equipamentos que podem substituir pessoas, pois são capazes de cumprir no campo ou na cidade o trabalho que seria desenvolvido por um número expressivo e muito significativo de pessoas.

Quando isto é impossível, precisam reduzir os custos com jornadas maiores e salários menores e o empobrecimento dos países é imprescindível para que a lei do mercado seja estabelecida: mais pessoas precisando do mínimo para a subsistência aceitam trabalhar mais e receber cada vez menos. Modelos de competitividade e um mercado de trabalho violento, agressivo e perverso.

Enquanto isto, as novas mídias, as novas formas de comunicação e as novas redes sociais vendem a idéia de sucesso, prazer e liberdade em novos modelos de e-commerce, sucesso rápido, fórmulas mágicas  e “aceita que dói menos” porque se não é mimimi… choro de derrotado e coisa de comunista.

A era do descarte rápido não atinge somente o mercado de trabalho, mas também relações sociais, familiares e até religiosas. Como somos aqueles mais vitimizados pela fragilidade do mercado de trabalho, também precisamos pensar no nosso papel de como estamos alimentando esses espaços com o nosso fluxo de experiências, informações e produções de pessoas negras.

Cada elemento postado por nós na era dos algoritmos será computado e utilizado por um mercado virtual de comunicações. Somos um novo nicho sendo analisado pela lógica e o pique dele. Por isto mesmo, na hora que a televisão brasileira destrói tanta gente com sua novela, vemos o tempo todo enfiarem em nosso cérebro que “o agro é pop”.

Envenenamento consentido

Neste novo rumo nas relações comerciais e empresariais há também um outro olhar, sermos o nosso próprio nicho a ser ocupado: o mercado negro. Antes, porém, outro pit stop para desconstruir a ideia plantada de maneira mais efetiva, com aqueles velhos aparelhos dos quais não conseguimos nos desvencilhar, sem compreender como atuam:

Segundo o Wikipedia: “O mercado negro é a parte da economia ativa que envolve bens ou serviços considerados banidos em sua região. Os exemplos mais comumente utilizados são o comércio de armas não registradas, de calibres ou funcionalidades ilegais; o comércio de drogas ilícitas; produtos falsificados; prostituição quando ilegal.”

Não é novidade que os termos adjetivados com a palavra negro/negra, foram idealizados de maneira pejorativa (e isto começou há muito tempo),  somente passíveis de desconstrução por nossos esforços em cruzar esses limites da colonialidade.

 

Diante da verdade extrema sobre o desaparecimento de profissões, modos de produção, formas de absorção de informações e linguagens, surge o nosso mercado. Aí sim, um mercado negro, potente e sustentável.

 

Sustentabilidade com um compromisso, com o ambiente integral e saudável, vivo e preservado; solidário e afetivo; olhando aquele significado de MERCADO NEGRO com a certeza de que na cultura ancestral o MERCADO é um lugar de compartilhamento e trocas, mudanças de mãos, asè, movimento e encontros. Sem medo de compreender o grande portal que ali existe, na encruzilhada de cores, sabores, energias e vivências. Todas  necessárias, vibrantes e partes do todo em uma complexa prova de sua vitalidade.

No mês de maio, que seja saudado em toda a sua força e magnitude, o IPCN recomeça assim, em espiral, sempre voltando ao começo e sem maiores expectativas. Sabemos da importância do que estamos fazendo aqui coletivamente em toda a nossa diversidade de pensamentos, idéias, saberes e produções. Concebendo, sem ansiedades. 

É que na maior parte das vezes a ancestralidade conduz o desenrolar das agendas, para evitar o atropelamento das ideias.

“As ciências humanas centradas na racionalidade eurocêntrica são humanas para os brancos e desumanas para os não brancos.” (Livro “Pedagogia das Encruzilhadas”, autor Luiz Rufino)

Por Margareth Ferreira – Diretora de Patrimônio, Advogada Trabalhista e Previdenciária.