O Rio de Janeiro entrou em pânico. Quando correu a notícia de que, da Baía de Guanabara, quatro navios de guerra apontavam seus canhões para a cidade, os cariocas fizeram as malas às pressas para fugir da morte. Na Estação Central do Brasil, os trens para longe da capital da República partiram lotados. Nos bondes com destino aos subúrbios, os passageiros viajaram espremidos, muitos pendurados no lado de fora.

O perigo era real. Numa amostra do estrago que eram capazes de provocar, os navios militares fizeram disparos que mataram duas crianças no Morro do Castelo, no Centro, a poucos metros da Câmara dos Deputados.

O senador Ruy Barbosa (BA) contou aos colegas, num discurso no Senado, o horror de ter sido testemunha ocular do ataque naval:

— Foi com a minha filha chumbada ao leito, por uma enfermidade que não nos permite sequer movê-la na sua própria cama, que tive esta manhã de ver passar sobre a nossa casa, sob a forma de um projétil de guerra, a triste ameaça de ataque à nossa segurança e à nossa civilização.

Na noite de 22 de novembro de 1910, explodia a Revolta da Chibata. Centenas de marujos se insurgiram e se apossaram dos quatro navios da Marinha, entre os quais os encouraçados Minas Gerais e São Paulo, as mais poderosas máquinas de guerra da época. Eles não tinham motivação política. A grande bandeira era o fim dos castigos corporais aplicados aos acusados de indisciplina. Dos castigos, o mais violento eram as chicotadas — da mesma forma que se fazia com os escravos na época da Colônia e do Império. Por causa das chibatadas, as deserções no mundo naval eram rotineiras.

Fonte: Agência Senado